quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Reflexao

              

A Menina dos fósforos


Estava muito frio, a neve caía e já estava começando a escurecer. Era a noite do último dia do ano. Uma menina descalça e sem agasalho andava pelas ruas, no frio e no escuro. Quando atravessou correndo para fugir dos carros, a menina perdeu os chinelos que tinham sido da mãe e eram grandes demais. Um ela não achou mais e um garoto levou o outro, dizendo que ia usar como berço quando tivesse um filho.

A menina já estava com os pés roxos de frio. Tinha um pacotinho de fósforos na mão e outro no avental velho. Naquele dia não tinha conseguido vender nada e estava sem um tostão. Com frio e com fome, ela andava pelas ruas morrendo de medo. A neve caía no cabelo cacheado, mas ela não podia pensar nem no cabelo nem no frio. As casas estavam iluminadas e havia por toda parte um cheirinho gostoso de assado de ano novo. Era nisso que ela pensava.

Num cantinho entre duas casas, ela se encolheu toda, mas continuava sentindo muito frio. Voltar para casa, nem pensar: sem dinheiro, sem ter vendido nada, era certo o castigo do pai. Além do mais, a casa deles também era muito fria, sem forro e com o telhado cheio de furos e emendas, por onde o vento entrava assobiando.

Com as mãos geladas, pensou em acender um fósforo. Conseguiu. A chama pequenina parecia uma vela na concha da mão. A menina se imaginou diante de uma lareira enorme com o fogo esquentando tudo e ela também. Mas logo a chama apagou e a lareira sumiu. Ela só ficou com o fósforo queimando na mão.

Acendeu outro que, brilhando, fez a parede ficar transparente. Ela viu a casa por dentro: a mesa posta, a toalha branca, a louça linda. O assado, o recheio, as frutas. Não é que o assado, com o garfo e faca espetados, pulou do prato e veio correndo até onde ela estava?
Mas o fósforo apagou e ela só viu a parede grossa e húmida.

Acendeu mais um fósforo e se viu junto de uma belíssima árvore de Natal. Maior do que uma que tinha visto antes. Velinhas e figuras coloridas enchiam os galhos verdes. A menina esticou o braço e… o fósforo apagou. Mas as velinhas começaram a subir, a subir e ela viu que eram estrelas. Uma virou estrela cadente e riscou o céu.

-Alguém deve ter morrido. A avó – única pessoa que tinha gostado dela de verdade e que já tinha morrido – sempre dizia: “Quando uma estrela caí, é sinal de que uma alma subiu para o céu”.

A menina riscou mais um fósforo e, no meio do clarão, viu a avó tão boa e tão carinhosa, contente como nunca.

-Vovó, me leva embora! Sei que você não vai mais estar aqui quando o fósforo apagar. Você vai desaparecer como a lareira, o assado e a árvore de Natal.

E foi acendendo os outros fósforos para que a avó não sumisse. Foi tanta luz que parecia dia. E a avó ali, tão bonita, tão bonita. Pegou a menina no colo e voou com ela para onde não fazia frio e não havia fome nem dor. Foram para junto de Deus.

De manhãzinha, as pessoas viram no canto entre duas casas uma menina corada e sorrindo. Estava morta. Tinha morrido de frio na última noite do ano. Nas mãos, uma caixa de fósforos queimados.

-Ela tentou se esquentar, coitadinha.

Ninguém podia adivinhar tudo o que ela tinha visto, o brilho, a avó, as alegrias de um ano novo.


(Hans Christian Andersen)


Feliz Natal!!!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Trecho de Clarice V

              

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector

Um dia perfeito

                           

Um Dia Perfeito

Quase morri
Há menos de trinta e duas horas atrás
Hoje a gente fica na varanda
Um dia perfeito, com as crianças.

São as pequenas coisas que valem mais
É tão bom estarmos juntos
E tão simples : um dia perfeito.

Corre, corre, corre
Que vai chover
Olha a chuva!

Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meus ideais
Podem até maltratar meu coração
Que meu espírito
Ninguém vai conseguir quebrar

(Legião Urbana)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Poesia

                        


"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."


(Fernando Pessoa)

Indicação de Leitura

                           

Indico a leitura desse livro porque simplesmente é de Carlos Drumond de Andrade!

Livro: Poesia Completa
Autor: Carlos Drumond de Andrade

"Esta edição da Poesia completa de Carlos Drummond de Andrade, comemorativa do centenário de seu nascimento, segue escrupulosamente as disposições deixadas pelo grande poeta. De Alguma poesia, seu livro de estréia, até A paixão medida, Drummond de Andrade organizou pessoalmente, em pastas, os diversos títulos de sua vasta obra poética. Todo esse importante material, com correções e variantes do punho do autor, assim como uma valiosa iconografia de seu arquivo pessoal.
Todos os livros foram alinhados em ordem cronológica."

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Musica para lavar a alma

                       

Meu Namorado

Ele vai me possuindo
Não me possuindo
Num canto qualquer
É como as águas fluindo
Fluindo até o fim
É bem assim que ele me quer
Meu namorado
Meu namorado
Minha morada
É onde for morar você

Ele vai me iluminando
Não me iluminando
Um atalho sequer
Sei que ele vai me guiando
Guiando de mansinho
Pro caminho que eu quiser
Meu namorado
Meu namorado
Minha morada é onde for morar você

Vejo meu bem com seus olhos
E é com meus olhos
Que o meu bem me vê


(Chico Buarque)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Pensamento


"Se tiver de me esquecer, me esqueça. Mas bem devagarinho." 
(Mário Quintana)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Palavra de Vida

                

Salmo 90

Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente, 
 dize ao Senhor: Sois meu refúgio e minha cidadela, meu Deus, em que eu confio. 
 É ele quem te livrará do laço do caçador, e da peste perniciosa. 
 Ele te cobrirá com suas plumas, sob suas asas encontrarás refúgio. Sua fidelidade te será um escudo de proteção. 
 Tu não temerás os terrores noturnos, nem a flecha que voa à luz do dia, 
 nem a peste que se propaga nas trevas, nem o mal que grassa ao meio-dia. 
 Caiam mil homens à tua esquerda e dez mil à tua direita, tu não serás atingido. 
 Porém verás com teus próprios olhos, contemplarás o castigo dos pecadores, 
 porque o Senhor é teu refúgio. Escolheste, por asilo, o Altíssimo. 
 Nenhum mal te atingirá, nenhum flagelo chegará à tua tenda, 
 porque aos seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos. 
 Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra. 
 Sobre serpente e víbora andarás, calcarás aos pés o leão e o dragão. 
 Pois que se uniu a mim, eu o livrarei; e o protegerei, pois conhece o meu nome. 
 Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele. Hei de livrá-lo e o cobrirei de glória. 
 Será favorecido de longos dias, e mostrar-lhe-ei a minha salvação.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Noite, minha companheira

              

Noite infinita que chega mansa
Saudando a lua
Se apresenta tão elegante, tão envolvente
Chega escura e linda
Traz consigo uma leve brisa
Sem som nem perfume
Se faz presente na ausência das horas

Sempre companheira dos amantes
Dos solitários, dos amores
Sustenta as clamações dos poetas
E dura o tempo necessário
Para o descanso das almas
Que suspiram por mais um dia...

Ao apresentar-se assim tão impetuosa
Suplico sua companhia
Para que possa fazer andanças em mim mesma
E descobir-me serena na noite vazia!

R. Carvalho

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Deficiência

               


Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida,
aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, 
sem ter consciência de que é dono do seu destino.
Louco é quem não procura ser feliz com o que possui.
Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio,
de fome, de miséria.
E só têm olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um 
amigo, ou o apelo de um irmão.
Pois está sempre apressado para o trabalho e
quer garantir seus tostões no fim do mês.
Mudo é aquele que não consegue falar o que sente e
se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
Paralítico é quem não consegue andar na direção
daqueles que precisam de sua ajuda.
Diabético é quem não consegue ser doce.
Anão é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois
Miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.

A amizade é um amor que nunca morre.

(Mário Quintana)

Indicação de Leitura

                      Capa do livro O Vendedor de Sonhos por Augusto Cury

Indico a leitura desse livro que nos faz refletir sobre muitos momentos em nossa vida. Os personagens do livro nos faz lembrar de pessoas em nosso dia-a-dia e em tantas situações que nos deparamos. É uma boa leitura.


Livro: O Vendedor de Sonhos 
Autor: Augusto Cury


"Um homem desconhecido tenta salvar da morte um suicida. Ninguém sabe sua origem, seu nome sua história. Proclama aos quatro ventos que a sociedades modernas se converteram num hospício Global. Com uma eloqüência cativante, começa a chamar seguidores para vender sonhos. Ao mesmo tempo em que arrebata as pessoas e as liberta do cárcere da rotina, arruma muitos inimigos. Será ele um sábio ou um louco? Este é uma romance que nos fará rir chorar e pensar muito."

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Pensamento

 

"Já não quero ser grande, forte, inatingível.
quero ser, por hora, de um tamanho que
eu ainda me reconheça, que ainda saiba
me encontrar no passado ou um dia no futuro.
Quero ser humana, quero ser carne e osso,
quero sentir, quero tocar... quero poder
ser isso que sou na medida qualquer do tempo,
estar sempre pronta a me recompor das tempestades;
Não devo estar tão errada...

Há tanta água no oceano que se deixa evaporar
pelo único prazer de voltar a ser uma gota de chuva."

(Cáh Morandi)

Música para lavar a alma

               


Velha Infância 

Você é assim
Um sonho pra mim
E quando eu não te vejo

Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor

E a gente canta
E a gente dança
E a gente não se cansa

De ser criança
Da gente brincar
Da nossa velha infância

Seus olhos meu clarão
Me guiam dentro da escuridão
Seus pés me abrem o caminho
Eu sigo e nunca me sinto só

Você é assim
Um sonho pra mim
Quero te encher de beijos

Eu penso em você
Desde o amanhecer
Até quando eu me deito

Eu gosto de você
E gosto de ficar com você
Meu riso é tão feliz contigo
O meu melhor amigo é o meu amor

(Tribalistas)
 


quinta-feira, 24 de novembro de 2011

E essa tal Sustentabilidade?

              


Outro dia me perguntaram sobre sustentabilidade e resolvi deixar aqui meus pensamentos a respeito para que eu também possa, sempre que possível,  lembrar desse tema. Será que estamos ligados nessa idéia?

Da mesma forma que ainda amo escrever com lápis meus textos e aprecio uma boa leitura, uma boa música,   poemas e poesias, é através dessas artes que tento buscar o equilíbrio interno, penso que sem a natureza, não poderia apreciar as "pedras", metaforicamente escritas em versos por Carlos Drumond.  Mas o que isso tem haver? Na minha concepção...TUDO! 

Mas e aí, o que é Sustentabilidade? Arrisco a dizer de forma bem simples, que seria o equilíbrio da convivência entre o homem e o meio ambiente, ou seja, explorar o mesmo sem prejudicá-lo, cuidando dos aspectos ambientais, sociais e econômicos em busca de alternativas para sustentar a vida na terra sem prejudicar a qualidade de vida futura.  O desenvolvimento sustentável é uma tentativa de juntar os esforços de conservação da natureza de forma mutuamente benéfica para o bem comum das gerações presentes e futuras.

Na praticidade, a sustentabilidade é a exploração de recursos de maneira a prejudicar da menor forma possível esse equilíbrio entre meio e ambiente e biosfera: a reciclagem de lixo inorgânico, meios alternativos de transporte, reaproveitamento de materiais, compostagem de lixo orgânico, são apenas algumas práticas que representam muito bem o conceito de sustentabilidade. 

Aqui em BH/MG estamos fazendo a nossa parte. Quando vamos às compras não utilizamos as sacolas plásticas, cada um busca uma alternativa para carregar os produtos adquiridos ou utiliza sacola biodegradável. 

Aprendi sobre os 5 Rs e gostei muito:

Repense hábitos e atitudes
Reduza a geração e descarte de lixo
Reutilize e aumente a vida útil de um produto
Recicle e transforme o lixo em um produto novo
Recuse produtos que agridem a saúde e o meio ambiente

Percebo que no Brasil caminhamos lentamente em relação a sustentabilidade, mas os primeiros passos estão sendo dados...

(R. Carvalho)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Indicação de Leitura

                   

Recomendo, recomendo, recomendo. Muito, muito muito!!!! Eu sou suspeita de recomendar Clarice Lispector...para mim, uma das melhores de todos os tempos!!! Leio alguma coisa dela, e passo muito tempo sem ler mais nada, fico meditando, degustando o que li por muito tempo, depois vou a procura de mais...

Livro: Perto do Coração Selvagem
Autora: Clarice Lispector

"Escrito quando Clarice Lispector tinha vinte anos de idade, o livro tem como protagonista Joana, que narra sua história em dois planos: sua infância e o início de sua vida adulta. A literatura brasileira era, naquela altura, dominada por uma tendência essencialmente regionalista, com personagens contando as dificuldades da realidade social do país na época. Lispector surpreendeu a crítica com seu romance, seja pela problemática de caráter existencial, completamente inovadora, seja pelo estilo solto, elíptico e fragmentário. Este estilo de escrita se tornou marca característica da autora, como pode ser observado em seus trabalhos subsequentes."

Fonte: Wikipédia

domingo, 20 de novembro de 2011

Espelho

                


Não sabia o caminho a seguir
Apenas tinha uma certeza
Que a direção a ser seguida era seu coração
Cada sonho, nascido de delírios
Procurando não se sabe o quê

Atenta ao que via, percebia nuances
Mas não se entregava às ilusões
Essas poderiam ser caminhos perigosos para a alma
Estradas sinuosas que a vida nos prega

Mais adiante, um lago...e n'ele, espelho

Refletido seu eu, deixou exalar sua essência mulher
As folhas estavam sêcas ao chão
O tempo seguia em frente
A tarde era de outono, e era pra sempre
A cor era de um tom rosado
O vento era melodia em sua imaginação

E quando se encarou verdadeiramente
As lágrimas rolavam na face
Mas ao caírem ao chão, tranformavam-se em cristais

Os olhos negros eram seu próprio espelho
Sua própria imagem, distorcida talvez
Mas uma obra de arte em cores
Cheia de si, compreendia enfim sua caminahda
Percebeu então que...
Sua imagem refletida era a obra-prima da vida.

R. Carvalho

Simples assim

                     

"Vai menina, fecha os olhos.
Solta os cabelos. Joga a vida.
Como quem não tem o que perder.
Como quem não aposta.
Como quem brinca somente.
... Vai, esquece do mundo.
Molha os pés na poça.
Mergulha no que te dá vontade.
Que a vida não espera por você.
Abraça o que te faz sorrir.
Sonha que é de graça.
Não espere.
Promessas, vão e vem.
Planos, se desfazem.
Regras, você as dita.
Palavras, o vento leva.
Distância, só existe pra quem quer.
Sonhos, se realizam, ou não.
Os olhos se fecham um dia, pra sempre.
E o que importa você sabe, menina.
É o quão isso te faz sorrir. E só."

(Caio Fernando Abreu)

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Poesia

                

Procura da poesia

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.

Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
[...]

(Carlos Drumond de Andrade)

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O inacabado que há em mim

                                                                                        

Eu me experimento inacabado.
Da obra, o rascunho.
...Do gesto, o que não termina.

Sou como o rio em processo de vir a ser. A confluência de outras águas e o encontro com filhos de outras nascentes o tornam outro.

O rio é a mistura de pequenos encontros. Eu sou feito de águas, muitas águas. Também recebo afluentes e com eles me transformo.

O que sai de mim cada vez que amo? O que em mim acontece quando me deparo com a dor que não é minha, mas que pela força do olhar que me fita vem morar em mim? Eu me transformo em outros?

Eu vivo para saber. O que do outro recebo leva tempo para ser decifrado. O que sei é que a vida me afeta com seu poder de vivência. Empurra-me para reações inusitadas, tão cheias de sentidos ocultos.

Cultivo em mim o acúmulo de muitos mundos.
Por vezes o cansaço me faz querer parar. Sensação de que já vivi mais do que meu coração suporta.

Os encontros são muitos; as pessoas também. As chegadas e partidas se misturam e confundem o coração. É nesta hora em que me pego alimentando sonhos de cotidianos estreitos, previsíveis.

Mas quando me enxergo na perspectiva de selar o passaporte e cancelar as saídas, eis que me aproximo de uma tristeza infértil.

Melhor mesmo é continuar na esperança de confluências futuras.
Viver para sorver os novos rios que virão.
Eu sou inacabado. Preciso continuar.

Se a mim for concedido o direito de pausas repositoras, então já anuncio que eu continuo na vida. A trama de minha criatividade depende deste contraste, deste inacabado que há em mim.

Um dia sou multidão; no outro sou solidão.
Não quero ser multidão todo dia.

Num dia experimento o frescor da amizade;
no outro a febre que me faz querer ser só.

Eu sou assim.
Sem culpas...

(Padre Fabio de Melo)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Música para lavar a alma

                  

Resposta

Bem mais que o tempo
Que nós perdemos
Ficou pra trás também o que nos juntou
Ainda lembro o que eu estava lendo
Só pra saber o que você achou
Dos versos que eu fiz
E ainda espero
Resposta

Desfaz o vento
O que há por dentro
Desse lugar que ninguém mais pisou
Você está vendo o que está acontecendo
Nesse caderno sei que ainda estão


Os versos seus
Tão meus que peço
Nos versos meus
Tão seus que esperem
Que os aceite em paz
Eu digo que eu sou
O antigo do que vai adiante
Sem mais eu fico onde estou
Prefiro continuar distante

Bem mais que o tempo
Que nós perdemos
Ficou pra trás também o que nos juntou
Ainda lembro o que eu estava lendo
Só pra saber o que você achou


Desfaz o vento
O que há por dentro
Desse lugar que ninguém mais pisou
Você está vendo o que está acontecendo
Nesse caderno sei que ainda estão

Os versos seus...

Skank

Despertar

               

E a dor vai embora aos poucos
O coração vai abrindo novamente
Deixando raios de luz e de esperança
Invadir seu interior
Para que possas seguir em frente
E saber que viver é a única saída
Para se desprender de sentimentos indesejados
E a sua essência volta a ser a mesma de antes
Sua alma volta a ser cristalina
E sua vida segue como um grafite
A desenhar letras e formar um lindo poema!

R. Carvalho

Incerteza

               

Quase

"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. 

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. 

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Sarah Westphal


domingo, 6 de novembro de 2011

Atitude é tudo

                                    

"Uma mulher acordou uma manhã após a quimioterapia, olhou no espelho e percebeu que tinha somente três fios de cabelo na cabeça :

- Bom (ela disse), acho que vou trançar meus cabelos hoje.

Assim ela fez e teve um dia maravilhoso.·

No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e viu que tinha somente dois fios de cabelo na cabeça.

- Hummm (ela disse), acho que vou repartir meu cabelo no meio hoje.

Assim ela fez e teve um dia magnífico.

No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que tinha apenas um fio de cabelo na cabeça.

- Bem (ela disse), hoje vou amarrar meu cabelo como um rabo de cavalo.

Assim ela fez e teve um dia divertido.

No dia seguinte ela acordou, olhou no espelho e percebeu que não havia um único fio de cabelo na cabeça.

- Yeeesss… (ela exclamou), hoje não tenho que pentear meu cabelo."

ATITUDE É TUDO!

"Seja mais humano e agradável com as pessoas. Cada uma das pessoas com quem você convive está travando algum tipo de batalha. Viva com simplicidade. Ame generosamente. Cuide-se intensamente. Fale com gentileza. E, principalmente, não reclame. Se preocupe em agradecer pelo que você é, e por tudo o que tem! E deixe o restante com O Criador."


Fonte: Parábolas

Pensamento


"... quando explicamos a poesia ela torna-se banal. Melhor do que qualquer explicação é a experiência directa das emoções, que a poesia revela a uma alma predisposta a compreendê-la."

(Pablo Neruda)

Música para lavar a alma

             


Maria, Maria

Maria, Maria, é um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta
Uma mulher que merece viver e amar
Como outra qualquer do planeta
Maria, Maria, é o som, é a cor, é o suor
É a dose mais forte e lenta
De uma gente que ri quando deve chorar
E não vive, apenas aguenta

Mas é preciso ter força, é preciso ter raça
É preciso ter gana sempre
Quem traz no corpo a marca
Maria, Maria, mistura a dor e a alegria
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania de ter fé na vida

(Milton Nascimento)

PS: Música da minha vida

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O que é bom tem que ser divulgado

               Imaegm: ApocalipseMotorizado.net
O blog "No meio do caminho havia uma pedra, havia uma pedra no meio do caminho" apóia a petição pública por alteração do Código de Trânsito Brasileiro (CTB),  visando punir com rigor os motoristas que matam, cada dia mais, no trânsito. Alguns programas como: o programa Mais Você, da Rede Globo, A Tarde é Sua, do SBT e Papo Aberto, da TV Canção Nova levantaram a campanha “Não Foi Acidente” (http://www.naofoiacidente.com.br), promovida pelo Rafael Baltresca, filho e  irmão de vítimas mortas por um motorista embriagado. 
Além da mudança no CTB, defendemos também que haja mudanças no Código de Processo Civil e Código de Processo Penal. Atualmente, dificilmente um motorista é detido, pois os inúmeros recursos permitidos só possibilitam a prisão depois que o processo é “transitado em julgado”, ou seja, após a decisão final do STF em Brasília. Enquanto isso, motoristas que cometem crimes (embriagados ou não) permanecem soltos, dirigindo e prestes a cometer novos crimes.
É urgente que as leis sejam aperfeiçoadas e aplicadas corretamente, para que as vítimas não sejam mais punidas que os agressores.
Minha irmã, de 23 anos, havia acabado de se formar para o curso de nutrição e estava começando a acordar para o mundo, há dois anos também morreu em um acidente nas estradas do Brasil, por irresponsabilidade de  um motorista e até hoje não houve punição. 
Não adianta só lamentar, precisamos fazer valer nossa voz e exercer nossa cidadania, uma vez que sempre tem que começar de nós.
Se você acha que vale a pena lutar por essa causa, por favor acesse o site e deixe sua assinatura. Precisamos de Um milhão e trezentas assinaturas.
http://www.naofoiacidente.com.br



domingo, 30 de outubro de 2011

Trecho de Clarice IV

                        


"Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso - nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro…há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu…Para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões - cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você - respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você - não copie uma pessoa ideal, copie você mesma - é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma." 


Clarice Lispector (1947 Berna - Suiça)

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Vicent Van Gogh

                    


Vicent Williem Van Gogh foi um pintor pós-impressionista neerlandês, frequentemente considerado um dos maiores de todos os tempos. Sua vida foi marcada por fracassos. Ele falhou em todos os aspectos importantes para o seu mundo, em sua época. Foi incapaz de constituir família, custear a própria subsistência ou até mesmo manter contatos sociais. Aos 37 anos, sucumbiu a uma doença mental, cometendo suicídio. 
A sua fama póstuma cresceu especialmente  após a exibição das suas telas em Paris, a 17 de março de 1901.
Van Gogh é considerado um dos pioneiros na ligação das tendências impressionistas com as aspirações modernistas, sendo a sua influência reconhecida em variadas frentes da arte do século XIX, como por exemplo o expressionismo, o fauvuismo e o abstracionismo.   
Durante sua vida não conseguiu vender nenhuma de suas obras de arte.

"Após a experiência dos ataques repetidos, convém-me a humildade. Assim pois: paciência. Sofrer sem se queixar é a única lição que se deve aprender nessa vida." (Vicent Van Gogh)


Fonte: Wuikipédia

Principais obras: 

Os Girassóis
O Quarto de Van Gogh em Arles
Casa Amarela
Os Comedores de Batatas
Auto-retrato

Aprendendo com a vida

                             

É bom aprender...principalmente com as mancadas da vida. A gente cai, mas dá um jeito de se levantar, se reerguer e continuar. Essa é a melhor parte...continuar. Sabemos que lá na frente podemos cair de novo, mas se aprendemos, levantamos de novo. Aí sim a vida é uma graça. Dói às vezes, machuca algumas outras, mas quando se aprende, o sabor é maravilhoso! Colorir o sabor do aprender então, é que nos faz artistas de nós mesmos. Algumas máscaras são impossíveis de não colocá-las...a maioria as usam um dia...mas o importante é saber que essas caem, quando menos se espera. Algumas delas se faz necessário para seguir adiante, só não vale usá-las para machucar. Rir e chorar vale. Sonhar...vale também. Realizar, é a busca constante. Mas o bom mesmo é rir de tudo no final, só assim sabemos que de fato se aprendeu e valeu!

R. Carvalho

sábado, 22 de outubro de 2011

Pensamento



"Todas as manhãs ela deixa seus sonhos na cama, acorda e põe sua roupa de viver."

(Clarice Lispector)