quarta-feira, 29 de junho de 2011

Música para lavar a alma





Paciência 

(Lenine)

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para

Enquanto o tempo acelera e pede pressa
Eu me recuso faço hora vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência
Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para

Será que é tempo que lhe falta pra perceber
Será que temos esse tempo pra perder
E quem quer saber
A vida é tão rara

Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei, a vida não para (a vida não para não... a vida não para)

domingo, 26 de junho de 2011

Poesia





A Um Ausente 

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enloqueceu, enloquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.




(Carlos Drummond de Andrade)

sábado, 25 de junho de 2011

Amigo



"Que qualidade primeira a gente deve esperar de alguém com quem pretende um relacionamento? Perguntou-me o jovem jornalista, e lhe respondi: aquelas que se esperaria do melhor amigo. O resto, é claro, seriam os ingredientes da paixão, que vão além da amizade. Mas a base estaria ali: na confiança, na alegria de estar junto, no respeito, na admiração, na tranquilidade. Em não poder imaginar a vida sem aquela pessoa. Em algo além de todos os nossos limites e desastres.Talvez seja um bom critério. Não digo de escolha, pois amor é instinto e intuição, mas uma dessas opções mais profundas, arcaicas, que a gente faz até sem saber, para ser feliz ou para se destruir. Eu não quereria como parceiro de vida quem não pudesse querer como amigo. E amigos fazem parte de meus alicerces emocionais: são um dos ganhos que a passagem do tempo me concedeu. Falo daquela pessoa para quem posso telefonar, não importa onde ela esteja nem a hora do dia ou da madrugada, e dizer: “Estou mal, preciso de você”. E ele ou ela estará comigo pegando um carro, um avião, correndo alguns quarteirões a pé, ou simplesmente ficando ao telefone o tempo necessário para que eu me recupere, me reencontre, me reaprume, não me mate, seja lá o que for.Mais reservada do que expansiva num primeiro momento, mais para tímida, tive sempre muitos conhecidos e poucas, mas reais, amizades de verdade, dessas que formam, com a família, o chão sobre o qual a gente sabe que pode caminhar. Sem elas, eu provavelmente nem estaria aqui. Falo daquelas amizades para as quais eu sou apenas eu, uma pessoa com manias e brincadeiras, eventuais tristezas, erros e acertos, os anos de chumbo e uma generosa parte de ganhos nesta vida. Para eles não sou escritora, muito menos conhecida de público algum: sou gente.A amizade é um meio-amor, sem algumas das vantagens dele mas sem o ônus do ciúme – o que é, cá entre nós, uma bela vantagem. Ser amigo é rir junto, é dar o ombro para chorar, é poder criticar (com carinho, por favor), é poder apresentar namorado ou namorada, é poder aparecer de chinelo de dedo ou roupão, é poder até brigar e voltar um minuto depois, sem ter de dar explicação nenhuma. Amiga é aquela a quem se pode ligar quando a gente está com febre e não quer sair para pegar as crianças na chuva: a amiga vai, e pega junto com as dela ou até mesmo se nem tem criança naquele colégio. Amigo é aquele a quem a gente recorre quando se angustia demais, e ele chega confortando, chamando de “minha gatona” mesmo que a gente esteja um trapo. Amigo, amiga, é um dom incrível, isso eu soube desde cedo, e não viveria sem eles. Conheci uma senhora que se vangloriava de não precisar de amigos: “Tenho meu marido e meus filhos, e isso me basta”. O marido morreu, os filhos seguiram sua vida, e ela ficou num deserto sem oásis, injuriada como se o destino tivesse lhe pregado uma peça. Mais de uma vez se queixou, e nunca tive coragem de lhe dizer, àquela altura, que a vida é uma construção, também a vida afetiva. E que amigos não nascem do nada como frutos do acaso: são cultivados com… amizade. Sem esforço, sem adubos especiais, sem método nem aflição: crescendo como crescem as árvores e as crianças quando não lhes faltam nem luz nem espaço nem afeto.Quando em certo período o destino havia aparentemente tirado de baixo de mim todos os tapetes e perdi o prumo, o rumo, o sentido de tudo, foram amigos, amigas, e meus filhos, jovens adultos já revelados amigos, que seguraram as pontas. E eram pontas ásperas aquelas. Aguentei, persisti, e continuei amando a vida, as pessoas e a mim mesma (como meu amado amigo Erico Verissimo, “eu me amo mas não me admiro”) o suficiente para não ficar amarga. Pois, além de acreditar no mistério de tudo o que nos acontece, eu tinha aqueles amigos.Com eles, sem grandes conversas nem palavras explícitas, aprendi solidariedade, simplicidade, honestidade, e carinho. Nesta página, hoje, sem razão especial nem data marcada, estou homenageando aqueles, aquelas, que têm estado comigo seja como for, para o que der e vier, mesmo quando estou cansada, estou burra, estou irritada ou desatinada, pois às vezes eu sou tudo isso, ah!, sim. E o bom mesmo é que na amizade, se verdadeira, a gente não precisa se sacrificar, nem compreender, nem perdoar, nem fazer malabarismos sexuais, nem inventar desculpas, nem esconder rugas ou tristezas. A gente pode simplesmente ser: que alívio, neste mundo complicado e desanimador, deslumbrante e terrível, fantástico e cansativo. Pois o verdadeiro amigo é confiável e estimulante, engraçado e grave, às vezes irritante; pode se afastar, mas sabemos que retorna; ele nos aguenta e nos chama, nos dá impulso e abrigo, e nos faz ser melhores: como o verdadeiro amor."


 (Lya Luft)

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Indicação de Leitura

                


            
Indico essa leitura, pois foi o primeiro livro que ganhei na vida de presente! E que presente! Ganhei quando tinha dez anos de idade e o tenho até hoje. Por esse motivo, quando encontro pessoas especiais pelo caminho, faço questão de presenteá-las com o mesmo. E sempre que sinto falta da criança dentro de mim, releio para não esquecer certos valores, aqueles que só o coração de uma criança tem. É o tipo de livro que ninguém poderia deixar de ler. 

O Pequeno Príncipe
Autor: Antoine de Saint Exupéry

"O pequeno príncipe é uma obra aparentemente simples, mas, apenas aparentemente. É profunda e contém todo o pensamento e a "filosofia" de Saint-Exupéry. Apresenta personagens plenos de simbolismos: o rei, o contador, o geômetra, a raposa, a rosa, o adulto solitário e a serpente, entre outros. O pequeno príncipe vivia sozinho num planeta do tamanho de uma casa que tinha três vulcões, dois ativos e um extinto. Tinha também uma flor, uma formosa flor de grande beleza e igual orgulho. Foi o orgulho da rosa que arruinou a tranqüilidade do mundo do pequeno príncipe e o levou a começar uma viagem que o trouxe finalmente à Terra, onde encontrou diversos personagens a partir dos quais conseguiu descobrir o segredo do que é realmente importante na vida.
É uma obra que nos mostra uma profunda mudança de valores, que ensina como nos equivocamos na avaliação das coisas e das pessoas que nos rodeiam e como esses julgamentos nos levam à solidão. Nós nos entregamos a nossas preocupações diárias, nos tornamos adultos de forma definitiva e esquecemos a criança que fomos."

Fonte: Para Ler e Pensar

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Não perca tempo



“...Às vezes eu desisto muito fácil, às vezes eu desisto por pouca coisa, às vezes eu perco a graça por pouca coisa, às vezes eu me irrito por pouca coisa. E ele no sofrimento dele me ensinou que não precisa ser assim, que é muito mais bonito quando a gente presta atenção naquilo que estamos ganhando no eu aquilo que estamos perdendo,
 porque é muito mais bonito prestar atenção na alegria que na tristeza, que nós somos injustos, que cada vez nós desistimos antes mesmo de nós tentarmos, por isso se você quiser hoje se desafiar, eu sei que às vezes você corre o risco de que a tentação desanime por qualquer coisa, às vezes a gente desanima por qualquer coisa,
 a gente deixa de lutar antes da hora, a gente reclama da noite porque anoiteceu, a gente reclama do dia porque amanheceu, a gente é capaz de reclamar a vida inteira sem perceber que estamos sendo injustos com aquilo que a gente tem.
 Até mesmo com as pessoas. Às vezes a gente desiste de amar o outro por causa dos defeitos que ele tem. Às vezes dentro de nossa casa nós só somos parentes, a gente deixou de se amar por muito tempo, a gente desistiu do amor, a gente só vai saber o quanto as pessoas são importantes para nós no dia que elas forem embora de forma definitiva,
 aí não dá tempo mais. Não é verdade!!!
 Às vezes a gente deixa de conversar com as pessoas que a gente ama, para puni-las de alguma coisa. Oh Meu Deus!! Essa vida vai passar!! Esse tempo não volta, cada dia que você deixa de demonstrar seu amor pela sua mãe, esse dia nunca mais volta, cada dia que você deixa de demonstrar seu amor pelo seu pai
 só porque você estava bravo com ele, esse dia nunca mais volta, seus amigos, as pessoas mais importantes da sua vida, não desista de amá-las, pode ser que você possa ter pouco tempo e você nem sabe, não deixe o amargo do arrependimento prevaleça no seu coração, não deixe!
 Viva como fosse o ultimo dia de sua vida, antes que as pessoas morram e você tenha que carregar esse amargo, não amei como deveria ter amado, não fui o filho que deveria ter sido, não fui o esposo, esposa ou mãe como devera ter sido, não fui o amigo que poderia ter sido por uma razão muito simples.

 EU DESISTI DE AMAR!!!!

Recorre ás pessoas que você esta sendo relapso, pense nelas, e saia com um compromisso: de NÃO DESISTIR DE AMÁ-LAS!!!!”

 Depoimento de Padre Fábio de Melo, sobre um amigo que estava morrendo e não desistiu nem no ultimo suspiro. Então não desista de amar!!!!!

Reflexao



"...Porque a força de dentro é maior.
Maior que todos os ventos contrários."

Caio Fernando Abreu

Poesia



Projeção


Refleti sobre meus anseios e ordenei ao meu coração que se contenha
Estamos próximos de um futuro, e até agora só fui passado
No presente estou aflito, vazio, não vivo

Escolhi minha melhor roupa, e me atirei noite adentro
Muitas luzes, vários gostos... mas nenhum era o teu
E nenhuma luz me lembrou os teus olhos, então não eram nada, e nem fiz nada

A tua falta, agora, é tão forte, e robusta, que se torna quase um corpo ao meu lado
E eu a chamo, pois assim penso em ti, mesmo que eu não diga isso
O meu orgulho é tão bobo

Menina dos olhos negros …
O que eu farei enquanto espero teu abraço?

Essa minha “leve” esquizofrenia ainda acaba comigo
Pois não te tenho, nem sei se existes
Mas, mesmo assim, desejo
E me integro ao corpo dos amantes, românticos
Platonicamente sofrendo por uma projeção linda
Deves estar à procura, assim como eu
Ou se enganou, e morrerei sem demonstrar esse amor
Ao qual me entreguei completamente.


Daniel Sena Pires – Projeção

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Entre Você e Deus


ENTRE VOCÊ E DEUS 

Muitas vezes, as pessoas são egocêntricas, ilógicas e insensatas.

Perdoe-as, assim mesmo.



Se você é gentil, as pessoas podem acusá-lo de egoísta, interesseiro.
Seja gentil, assim mesmo.



Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos e inimigos verdadeiros.
Vença, assim mesmo.



Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo.
Seja honesto e franco, assim mesmo.



Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja.
Seja feliz, assim mesmo.



O bem que você faz hoje pode ser esquecido amanhã.
Faça o bem, assim mesmo.



Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante,
Dê o melhor de você, assim mesmo.



Veja você que, no final das contas é
Entre Você e Deus e não entre você e os homens.

(Madre Teresa de Calcutá)

Música para lavar a alma




Quase Sem Querer

Tenho andado distraído,
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso.
Só que agora é diferente:
Estou tão tranquilo
E tão contente. 

Quantas chances
desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém.

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia.

Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira. 
Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo. 

Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você. 

Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos.
Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas? 

Me disseram que você
estava chorando
E foi então que percebi
Como lhe quero tanto. 

Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você

(Legião Urbana)

terça-feira, 14 de junho de 2011

Não deixe o amor passar



Não deixe o amor passar 


Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu.
Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês.
Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor.
Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.


(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Trecho de Clarice II



"A Viagem (trecho)

Impossível explicar. Afastava-se aos poucos da­quela zona onde as coisas têm forma fixa e arestas, onde tudo tem um nome sólido e imutável. Cada vez mais afundava na região líquida, quieta e insondável, onde pairavam névoas vagas e frescas como as da madrugada. Da madrugada erguendo-se no campo. Na fazenda do tio acordara no meio da noite. As tábuas da casa velha rangiam. De lá do primeiro andar, solta no espaço escuro, afundara os olhos na terra, procurando as plantas que se torciam enrodilhadas como víboras. Alguma coisa piscava na noite, espiando, espiando, olhos de um cão deitado, vigi­lante. O silêncio pulsava no seu sangue e ela arfava com ele. Depois a madrugada nasceu sobre as cam­pinas, rosada, úmida. As plantas eram de novo ver­des e ingênuas, o talo fremente, sensível ao sopro do vento, nascendo da morte. Já nenhum cão vigiava a fazenda, agora tudo era um, leve, sem consciência. Havia então um cavalo solto na campina quieta, a mobilidade de suas pernas apenas adivinhada. Tudo impreciso, mas de súbito na imprecisão encontrara uma nitidez que ela apenas adivinhara e não pudera possuir inteiramente. Perturbada pensara: tudo, tudo.
As palavras são seixos rolando no rio. Não fora feli­cidade o que sentira então, mas o que sentira fora fluido, docemente amorfo, instante resplandecente, instante sombrio. Sombrio como a casa que ficava na estrada coberta de árvores folhudas e poeira do cami­nho. Nela morava um velho descalço e dois filhos, grandes e belos reprodutores. O mais novo tinha olhos, sobretudo olhos, beijara-a uma vez, um dos melhores beijos que jamais sentira, e alguma coisa erguia-se no fundo de seus olhos quando ela lhe es­tendia a mão. Essa mesma mão que agora repousava sobre o espaldar de uma cadeira, como um pequeno corpinho aparte, saciado, negligente. Quando era pe­quena costumava fazê-la dançar, como a uma moci­nha tenra. Dançara-a mesmo para o homem que fu­gia ou fora preso, para o amante — e ele fascinado e angustiado terminara por apertá-la, beijá-la como se realmente a mão sozinha fosse uma mulher. Ah, vivera muito, a fazenda, o homem, as esperas. Ve­rões inteiros, onde as noites decorriam insones, dei­xavam-na pálida, os olhos escuros. Dentro da insônia, várias insônias. Conhecera perfumes. Um cheiro de verdura úmida, verdura aclarada por luzes, onde? Ela pisara então na terra molhada dos canteiros, enquanto o guarda não prestava atenção. Luzes pen­dendo de fios, balançando, assim, meditando indife­rentes, música de banda no coreto, os negros farda­dos e suados. As árvores iluminadas, o ar frio e arti­ficial de prostitutas. E sobretudo havia o que não se pode dizer: olhos e boca atrás da cortina espian­do, olhos de um cão piscando a intervalos, um rio rolando em silêncio e sem saber. Também: as plan­tas crescendo de sementes e morrendo."

Trecho do livro " Perto do coração Selvagem"  - Clarice Lispector

Indicação de Leitura



Perto do Coração Selvagem
Autora: Clarice Lispector

Recomendo a leitura deste livro por vários motivos: excelente leitura, por ser uma obra brasileira, pela linguagem  e por tocar fundo na alma. Uma das obras mais tocantes e perfeitas de Clarice Lispector. É simplesmente tudo de bom que uma boa leitura pode oferecer!


"O livro mostra o cotidiano de Joana, menina criada pelo pai, já que a mãe, Elza, morrera muito cedo. O pai passado alguns anos também morre, então ela vai morar com a irmã de seu pai. A tia não gostava de Joana, pois a presença da menina a sufocava e a enviou para um internato, lá ocorre uma paixão avassaladora por seu professor um pouco mais velho. Um ponto culminante que a enviou para o internato foi dias antes acompanhando à tia as compras, como um teste para si mesma e causa espanto aos outros, Joana roubou um livro, trazendo mais dificuldades a sua convivência com a família da tia.

Fora do internato casa-se com Otávio. Joana fica grávida, para a maioria das mulheres a gravidez é uma felicidade, mas para ela não foi assim. Descobre que o marido tem uma amante, Lívia, sua ex-noiva que estava também grávida. Com o tempo ocorre a separação entre Joana e o marido.
Em meio aos acontecimentos observa-se a todo o momento o fluxo de consciência, uma procura constante em descobrir e encontrar a razão de ser de sua existência. O contexto mostra a situação do universo feminino da mulher-esposa, da relação do “eu” e do “outro” ou da relação menina-mulher-amante.
O tempo passa e ela tem um caso com um desconhecido. O homem surgiu estranhamente e também partiu estranhamente. Com a desilusão Joana resolve fazer uma viagem sem destino e não definida, objetivo procurar seu resgate pessoal. A história chega a ser um enigma da vida.
No decorrer de todo o livro mostra o conflito entre morte e vida, bem e mal, amor e ódio, a crise do indivíduo. A busca por algo aparentemente exterior e descobrindo que é a procura do autoconhecimento."
(Por Roberta Laisa Dantas de Sousa)

Música para lavar a alma



Tente Outra vez


Raul Seixas

Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha em fé em
Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!…
Beba! (Beba!)
Pois a
água viva
Ainda tá na fonte
(Tente outra vez!)
Você tem dois
pés
Para cruzar a ponte
Nada acabou!
Não! Não! Não!…

Tente!
Levante sua mão sedenta
E recomece a andar
Não
pense
Que a cabeça agüenta
Se você parar
Não! Não! Não!
Não! Não!
Não!…
Há uma voz que canta
Uma voz que dança
Uma voz que
gira
(Gira!)
Bailando no ar
Queira!
(Queira!)
Basta ser sincero
E desejar profundo
Você será capaz
De
sacudir o mundo
Vai!
Tente outra vez!
Tente!
(Tente!)
E não diga
Que a vitória está perdida
Se é de batalhas
Que
se vive a vida
Han!
Tente outra vez!…

Poesia



Ser poeta

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens!
Morder como quem beija!É ser mendigo e dar como quem seja

Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja

É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!


E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

Florbela Espanca 

terça-feira, 7 de junho de 2011

Outono na alma



Cuidando do jardim da alma, o outono é a estação que mais me faz refletir sobre as coisas da vida. As emoções fluem com mais melancolia, mas mesmo assim ainda existe um pouco de cor. O vento vem mais forte, mais frio. E a alma insiste em reflexão, na cabeça e no coração, pulsando por estações mais aquecidas. Mas estamos no início dessa estação e as folhas agora que começam a cair no chão, secas, amareladas, se acumulando junto com sentimentos, aguardando um inverno mais frio ainda. Mesmo assim olho o jardim da alma com pensamentos. Já são anos e anos cuidando deste jardim, olhando horizonte afora, observando nas folhas que o vento insiste em carregar...as folhas da linda primavera, e que agora, são levadas de mim. Elas nem me importam tanto e é triste vê-las se desgarrarem dos galhos, mudarem de cor e sendo carregadas sempre para algum lugar em tardes  de outono. O que é bom de se observar, são as mudanças no jardim, tudo se vai, para ser renovado. As manhãs de agora são frias e nubladas. Nos levam com certeza a reflexão. A vontade que dá, é de ficar deitadinha, embaixo de cobertores, aquecendo o corpo e alma, esperando apenas o florir das plantas, chegando com notícias novas para enriquecer a vida. Mas isso não é possível no momento. Para que um jardim se torne realmente belo nas estações aquecidas, é preciso que troque as folhas no outono, que a alma se feche em casulo, sentindo tudo que há para sentir, deixar que o cinza e tons de marrom e verde sejam as cores nobres da estação, e que se permita um leve toque de tristeza para que verdadeiramente cresça apenas sentimentos bons. Não deixa de ser uma emoção intensa. Dói às vezes. Me sinto como a pedra  “no meio do caminho de Drumond”.  
Mas vou deixando acontecer e degustando desta estação, que só se  tornará verdadeira e linda para mim se souber encarar com outros olhos, colocando as cores que eu quero nas folhas que o vento insiste em levar.


(R. Carvalho)