terça-feira, 29 de março de 2011

Onde existe solidão?



Muitas vezes passei férias quando criança na fazenda de meus avós. E me lembro que ficava admirada de ver aquelas casinhas ao longe quando anoitecia, e que havia apenas uma luz lá no fundo ao longe...Eu ficava imaginando como devia ser triste quem ali morava por ter uma vida de solidão; mesmo durante o dia eu via apenas os caseiros e os seus filhos e que se divertiam e brincavam quando nossa família ali estava, mas e quando íamos embora? Devia ser uma tremenda solidão. Após a hora do almoço, o sol quente das duas da tarde, ali no mato, aquele silêncio de natureza, até os animais em repouso, só o canto de algum passarinho ou de cigarras. Algumas noites, dependendo da época, havia rezas nessas casas da roça, e os meus avós faziam com que eu e meus primos participássemos e aprendêssemos a dar valor àquelas coisas. Assim que a reza terminava era servido um café, mas não era qualquer coisa não,  era o cafezinho da roça, biscoitos de povilho, bolos variados, preparados no dia, tudo fresquinho, para a criançada, com certeza era a melhor hora. E mesmo assim, eu pensava de como devia ser triste aquele lugar depois das férias!
Hoje, rodeada de celulares, computador, internet, televisão e a correria da vida urbana, me deparo com as cenas das férias de criança na roça, e imagino onde será que está a solidão? Penso que a solidão que eu pensava existir naquele lugar, é a mesma que deparo em tantas pessoas da vida urbana, e que lá na fazenda, no silêncio da natureza, na luz que ilumina as casinhas solitárias, mas cheias de amor e aconchego de famílias,  existe vida e confraternização. E que as pessoas que ali vivem se sentem menos sozinhas do que nós das "cidade grande", com nossas redes sociais, agendas de celular lotadas de "amigos", tv a cabo, noites em bares...
A solidão é companheira  do silêncio, mas nem todo silêncio quer dizer solidão!

(R. Carvalho)

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