Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
(Fernando Pessoa)
2 comentários:
Fernando Pessoa é sempre inspirador. Quando eu tava na escola, adorava ler ele, embora não entendesse um monte de coisas que ele dizia; a maneira como ele trabalha a palavra é magnetizante.
Eu tembém escrevo umas coisinhas, pra passar o tempo... Não é lá grande coisa não. Quer me seguir? http://andarilioerrante.blogspot.com.br/
Olá! Obrigada por vir e comentar...sim, Fernando pessoa é sempre inspirador! E essa poesia é muito especial! Já estou seguindo seu blog e gostei de seus escritos. Um abraço!
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