terça-feira, 11 de setembro de 2012

Poesia

                  

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.


(Fernando Pessoa)

2 comentários:

Andarilho Errante disse...

Fernando Pessoa é sempre inspirador. Quando eu tava na escola, adorava ler ele, embora não entendesse um monte de coisas que ele dizia; a maneira como ele trabalha a palavra é magnetizante.

Eu tembém escrevo umas coisinhas, pra passar o tempo... Não é lá grande coisa não. Quer me seguir? http://andarilioerrante.blogspot.com.br/

R. Carvalho disse...

Olá! Obrigada por vir e comentar...sim, Fernando pessoa é sempre inspirador! E essa poesia é muito especial! Já estou seguindo seu blog e gostei de seus escritos. Um abraço!

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