quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Reflexao

              

A Menina dos fósforos


Estava muito frio, a neve caía e já estava começando a escurecer. Era a noite do último dia do ano. Uma menina descalça e sem agasalho andava pelas ruas, no frio e no escuro. Quando atravessou correndo para fugir dos carros, a menina perdeu os chinelos que tinham sido da mãe e eram grandes demais. Um ela não achou mais e um garoto levou o outro, dizendo que ia usar como berço quando tivesse um filho.

A menina já estava com os pés roxos de frio. Tinha um pacotinho de fósforos na mão e outro no avental velho. Naquele dia não tinha conseguido vender nada e estava sem um tostão. Com frio e com fome, ela andava pelas ruas morrendo de medo. A neve caía no cabelo cacheado, mas ela não podia pensar nem no cabelo nem no frio. As casas estavam iluminadas e havia por toda parte um cheirinho gostoso de assado de ano novo. Era nisso que ela pensava.

Num cantinho entre duas casas, ela se encolheu toda, mas continuava sentindo muito frio. Voltar para casa, nem pensar: sem dinheiro, sem ter vendido nada, era certo o castigo do pai. Além do mais, a casa deles também era muito fria, sem forro e com o telhado cheio de furos e emendas, por onde o vento entrava assobiando.

Com as mãos geladas, pensou em acender um fósforo. Conseguiu. A chama pequenina parecia uma vela na concha da mão. A menina se imaginou diante de uma lareira enorme com o fogo esquentando tudo e ela também. Mas logo a chama apagou e a lareira sumiu. Ela só ficou com o fósforo queimando na mão.

Acendeu outro que, brilhando, fez a parede ficar transparente. Ela viu a casa por dentro: a mesa posta, a toalha branca, a louça linda. O assado, o recheio, as frutas. Não é que o assado, com o garfo e faca espetados, pulou do prato e veio correndo até onde ela estava?
Mas o fósforo apagou e ela só viu a parede grossa e húmida.

Acendeu mais um fósforo e se viu junto de uma belíssima árvore de Natal. Maior do que uma que tinha visto antes. Velinhas e figuras coloridas enchiam os galhos verdes. A menina esticou o braço e… o fósforo apagou. Mas as velinhas começaram a subir, a subir e ela viu que eram estrelas. Uma virou estrela cadente e riscou o céu.

-Alguém deve ter morrido. A avó – única pessoa que tinha gostado dela de verdade e que já tinha morrido – sempre dizia: “Quando uma estrela caí, é sinal de que uma alma subiu para o céu”.

A menina riscou mais um fósforo e, no meio do clarão, viu a avó tão boa e tão carinhosa, contente como nunca.

-Vovó, me leva embora! Sei que você não vai mais estar aqui quando o fósforo apagar. Você vai desaparecer como a lareira, o assado e a árvore de Natal.

E foi acendendo os outros fósforos para que a avó não sumisse. Foi tanta luz que parecia dia. E a avó ali, tão bonita, tão bonita. Pegou a menina no colo e voou com ela para onde não fazia frio e não havia fome nem dor. Foram para junto de Deus.

De manhãzinha, as pessoas viram no canto entre duas casas uma menina corada e sorrindo. Estava morta. Tinha morrido de frio na última noite do ano. Nas mãos, uma caixa de fósforos queimados.

-Ela tentou se esquentar, coitadinha.

Ninguém podia adivinhar tudo o que ela tinha visto, o brilho, a avó, as alegrias de um ano novo.


(Hans Christian Andersen)


Feliz Natal!!!

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Trecho de Clarice V

              

"Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

Clarice Lispector

Um dia perfeito

                           

Um Dia Perfeito

Quase morri
Há menos de trinta e duas horas atrás
Hoje a gente fica na varanda
Um dia perfeito, com as crianças.

São as pequenas coisas que valem mais
É tão bom estarmos juntos
E tão simples : um dia perfeito.

Corre, corre, corre
Que vai chover
Olha a chuva!

Não vou me deixar embrutecer
Eu acredito nos meus ideais
Podem até maltratar meu coração
Que meu espírito
Ninguém vai conseguir quebrar

(Legião Urbana)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Poesia

                        


"Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu."


(Fernando Pessoa)

Indicação de Leitura

                           

Indico a leitura desse livro porque simplesmente é de Carlos Drumond de Andrade!

Livro: Poesia Completa
Autor: Carlos Drumond de Andrade

"Esta edição da Poesia completa de Carlos Drummond de Andrade, comemorativa do centenário de seu nascimento, segue escrupulosamente as disposições deixadas pelo grande poeta. De Alguma poesia, seu livro de estréia, até A paixão medida, Drummond de Andrade organizou pessoalmente, em pastas, os diversos títulos de sua vasta obra poética. Todo esse importante material, com correções e variantes do punho do autor, assim como uma valiosa iconografia de seu arquivo pessoal.
Todos os livros foram alinhados em ordem cronológica."

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Musica para lavar a alma

                       

Meu Namorado

Ele vai me possuindo
Não me possuindo
Num canto qualquer
É como as águas fluindo
Fluindo até o fim
É bem assim que ele me quer
Meu namorado
Meu namorado
Minha morada
É onde for morar você

Ele vai me iluminando
Não me iluminando
Um atalho sequer
Sei que ele vai me guiando
Guiando de mansinho
Pro caminho que eu quiser
Meu namorado
Meu namorado
Minha morada é onde for morar você

Vejo meu bem com seus olhos
E é com meus olhos
Que o meu bem me vê


(Chico Buarque)

domingo, 11 de dezembro de 2011

Pensamento


"Se tiver de me esquecer, me esqueça. Mas bem devagarinho." 
(Mário Quintana)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Palavra de Vida

                

Salmo 90

Tu que habitas sob a proteção do Altíssimo, que moras à sombra do Onipotente, 
 dize ao Senhor: Sois meu refúgio e minha cidadela, meu Deus, em que eu confio. 
 É ele quem te livrará do laço do caçador, e da peste perniciosa. 
 Ele te cobrirá com suas plumas, sob suas asas encontrarás refúgio. Sua fidelidade te será um escudo de proteção. 
 Tu não temerás os terrores noturnos, nem a flecha que voa à luz do dia, 
 nem a peste que se propaga nas trevas, nem o mal que grassa ao meio-dia. 
 Caiam mil homens à tua esquerda e dez mil à tua direita, tu não serás atingido. 
 Porém verás com teus próprios olhos, contemplarás o castigo dos pecadores, 
 porque o Senhor é teu refúgio. Escolheste, por asilo, o Altíssimo. 
 Nenhum mal te atingirá, nenhum flagelo chegará à tua tenda, 
 porque aos seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos. 
 Eles te sustentarão em suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra. 
 Sobre serpente e víbora andarás, calcarás aos pés o leão e o dragão. 
 Pois que se uniu a mim, eu o livrarei; e o protegerei, pois conhece o meu nome. 
 Quando me invocar, eu o atenderei; na tribulação estarei com ele. Hei de livrá-lo e o cobrirei de glória. 
 Será favorecido de longos dias, e mostrar-lhe-ei a minha salvação.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Noite, minha companheira

              

Noite infinita que chega mansa
Saudando a lua
Se apresenta tão elegante, tão envolvente
Chega escura e linda
Traz consigo uma leve brisa
Sem som nem perfume
Se faz presente na ausência das horas

Sempre companheira dos amantes
Dos solitários, dos amores
Sustenta as clamações dos poetas
E dura o tempo necessário
Para o descanso das almas
Que suspiram por mais um dia...

Ao apresentar-se assim tão impetuosa
Suplico sua companhia
Para que possa fazer andanças em mim mesma
E descobir-me serena na noite vazia!

R. Carvalho

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Deficiência

               


Deficiente é aquele que não consegue modificar sua vida,
aceitando as imposições de outras pessoas ou da sociedade em que vive, 
sem ter consciência de que é dono do seu destino.
Louco é quem não procura ser feliz com o que possui.
Cego é aquele que não vê seu próximo morrer de frio,
de fome, de miséria.
E só têm olhos para seus míseros problemas e pequenas dores.
Surdo é aquele que não tem tempo de ouvir um desabafo de um 
amigo, ou o apelo de um irmão.
Pois está sempre apressado para o trabalho e
quer garantir seus tostões no fim do mês.
Mudo é aquele que não consegue falar o que sente e
se esconde por trás da máscara da hipocrisia.
Paralítico é quem não consegue andar na direção
daqueles que precisam de sua ajuda.
Diabético é quem não consegue ser doce.
Anão é quem não sabe deixar o amor crescer.
E, finalmente, a pior das deficiências é ser miserável, pois
Miseráveis são todos que não conseguem falar com Deus.

A amizade é um amor que nunca morre.

(Mário Quintana)

Indicação de Leitura

                      Capa do livro O Vendedor de Sonhos por Augusto Cury

Indico a leitura desse livro que nos faz refletir sobre muitos momentos em nossa vida. Os personagens do livro nos faz lembrar de pessoas em nosso dia-a-dia e em tantas situações que nos deparamos. É uma boa leitura.


Livro: O Vendedor de Sonhos 
Autor: Augusto Cury


"Um homem desconhecido tenta salvar da morte um suicida. Ninguém sabe sua origem, seu nome sua história. Proclama aos quatro ventos que a sociedades modernas se converteram num hospício Global. Com uma eloqüência cativante, começa a chamar seguidores para vender sonhos. Ao mesmo tempo em que arrebata as pessoas e as liberta do cárcere da rotina, arruma muitos inimigos. Será ele um sábio ou um louco? Este é uma romance que nos fará rir chorar e pensar muito."